Do outro lado da tela

Monalisa (Leonardo da Vinci)

Já nos anos 1980 havia um termo cunhado para quem queria ficar em casa e se informar, se entreter sem sair do lugar: o tal do cocooning, essa coisa de preferir não sair do casulo. Para quem é interessado em artes, os museus virtuais e seus acervos on-line dão uma forcinha para essa tendência.

No bojo da simples visita turística virtual, os museus acabaram viabilizando novas formas de lidar com a arte. Você pode acessá-los para matar a saudade de alguma obra querida, vista ao vivo em algum lugar do passado. Ou pode dar conta da chamada saudade do futuro, aquilo que acontece quando estamos planejando uma experiência e já a vivenciamos intensamente de maneira virtual no presente — uma nostalgia íntima por algo que ainda não aconteceu. Assim, quando você finalmente sai do casulo e decide visitar um museu, já sabe o que existe lá, e a amostra grátis só aumentou o desejo que que estava por vir.

Google Art Project: o grande diretório de museus digitais

A experiência de apreciação de arte on-line alcança uma inimaginável potência por meio do Google Art Project, que concentra os principais museus on-line do mundo, oferecendo buscas também por artista, estilo, cor predominante e outros critérios. É um excelente ponto de partida. Contudo, é importante notar que nem todas as instituições disponibilizam nesse site a totalidade de seus acervos virtuais. A visita a cada um deles, individualmente, ainda consta como a opção mais completa.

Museus digitais: alguns clássicos

Todos os grandes museus, aqueles que não se deixa de visitar numa viagem, têm acesso on-line de boa qualidade. Tem uma queda por arte antiga? O eternamente fantástico Museu do Louvre oferece Egito, gregos, romanos, Idade Média. A plena Renascença também está lá em peso, chegando ao seu auge com a Mona Lisa. Ainda na Paris a distância existe o Museu D’Orsay, famoso por suas esculturas do século XVIII e pela maravilhosa coleção de pinturas impressionistas, tão criticadas na época de seu surgimento e atualmente quase unânimes entre os interessados por estética ou os curiosos pelo assunto.

Há também o British Museum, considerado por muitos um rival à altura do Louvre. Famoso por seu acervo de arte africana, ele transita entre produções datadas do Mesolítico, passando por clássicos étnicos e pelo contemporâneo, como é o caso da arte pop japonesa. O Tate Modern, outro gigante nas listas dos melhores museus, tem uma página dinâmica que é atualizada frequentemente para celebrar uma data, educar crianças em artes e mostrar seus eventos com o máximo de detalhes.

Aficionados por arquitetura e design vão se deleitar com o Bauhaus-Archiv, fisicamente sediado em Berlim. Obras do movimento cultural e estético se amalgamam com croquis de objetos e construções, tecendo umas das trajetórias mais relevantes das artes no século XX.

Outro absolutamente imperdível e de navegação muito simples é o Rijksmuseum e seu acervo de arte holandesa — incluindo obras de Frans Post, que visitou o Brasil pós-descobrimento para documentar, com tinta e tela, como era nosso país em uma época em que o homem, nem em seus sonhos mais loucos, poderia conceber uma máquina fotográfica.

Mas, dentre todos esses, contudo, nenhum supera o esquema de navegação do primoroso Hermitage Museum, de São Petersburgo, na Rússia. É claro, direto e acessível já na home. O acervo inclui arte russa de todas as épocas e estilos, arte europeia, oriental e do norte da África.

Embora nem sempre recordemos dos Estados Unidos como uma referência em arte, eles estão repletos de instituições maravilhosas que guardam um enorme número de obras internacionais. Abstracionistas como Kandinsky, Willem de Kooning, Mondrian e Jackson Pollock podem ser encontrados em lugares como o Solomon Guggenheim, de Nova York. A mulher de Pollock, Lee Kasner, habita outros museus, como o MoMA, que em seu site disponibiliza ao público 77 mil das 220 mil peças da sua coleção. Essa quantidade jamais conseguiria estar exposta nos corredores de seus prédios.

On-line nacional

No Brasil, o Instituto Ricardo Brennand (Recife-PE) e Inhotim (Brumadinho-MG) ficaram dentro do ranking dos 25 melhores museus do mundo segundo o Traveler’s Choice Museums, do site Trip Advisor. Em modo on-line, o museu Brennand pode refestelar-se da mesma aprovação de sua unidade presencial. Seu riquíssimo acervo é organizado por destaques, artistas e mídias (tipologias), facilitando imensamente a navegação do internauta que não sabe exatamente o que encontrar lá. Já a página de Inhotim funciona como um facilitador para quem pretende realizar o passeio presencial.

Digital ancestral

Culturas mais primitivas do mundo não se inscrevem no conceito de arte tradicional. Mas a verdade é que a simples produção de objetos e utensílios particulares desses povos faz, sim, parte do conceito mais amplo de criação estética.

No México de Frida Kahlo fica o Museo Nacional de Antropología, que, on-line, transmite fotos e histórias de peças da época pré-colombiana e da arte folclórica mexicana — um verdadeiro achado. Já o Museu Berbère, criado pelo estilista Yves Saint Lauren e pelo seu companheiro, Pierre Bergé, no fantástico Jardin Majorelle, no Marrocos, conta a história desse conjunto de povos do norte da África, incluindo os tuaregues do deserto do Saara.

O mundo transborda arte. É de um verdadeiro espanto. Museus on-line não deixam você perder essa exposição que se iniciou desde que o homem é homem.

Links do tour virtual

artsandculture.google.com louvre.fr/en/visites-en-ligne musee-orsay.fr britishmuseum.org tate.org.uk  bauhaus.de rijksmuseum.nl hermitagemuseum.org guggenheim.org moma.org institutoricardobrennand.org.br • inhotim.org.br mna.inah.gob.mx jardinmajorelle.com/introduction-a-la-culture-berbere

Joana Coccarelli
Joana Coccarelli

É carioca, jornalista com MBA em Marketing, Formação em Moda e artista plástica com foco em colagem. Tem 18 anos de experiência em reportagem, redação e edição de matérias sobre cultura, desenvolvimento sustentável, arte/ artesanato e comportamento.

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