Perfis — e personalidades — que se destacam em um mar de influencers
Em um passado não muito distante, a moda era um universo habitado por poucos, com revistas sendo apelidadas de bíblias, editoras criando listas de do & don’t, modelos impondo padrões estéticos quase impossíveis e roupas-alegorias que dificilmente chegariam à consumidora final e muito menos às grandes massas.
Com as redes sociais, este cenário mudou. As informações a todo minuto e transmissões ao vivo começaram a democratizar, mesmo que virtualmente, os bastidores dos até então exclusivíssimos desfiles no circuito Nova York, Londres, Milão e Paris.
De quebra, a internet se tornou espaço para uma nova geração de personagens que ganharam visibilidade e, consequentemente, seguidores que se inspiram não apenas na forma como se vestem, como também nos lugares que frequentam, no que comem e até em como pensam.
Em um mar de influencers, termo que divide opiniões e faz muitos torcerem o nariz, há nomes que conseguem se destacar e vão além do #ootd (“outfit of the day” ou “look do dia”). São pessoas com personalidade original e que apresentam perspectivas inusitadas no universo da moda. Quem são alguns destes nomes? Aqui vai uma seleção da Revista Souza Cruz:
Catherine Baba
Ao olhar uma foto da stylist australiana radicada em Paris, pode-se achar que a imagem pertença a um editorial dos anos 1970 ou a um filme noir, mas é na verdade uma imagem recente e, digamos, casual. É que Catherine não preza pelo conforto ou pela praticidade, seja no trabalho ou até mesmo quando vai à praia — em sua passagem pelo Brasil em 2016, por exemplo, ela não deixou o salto de lado ao andar pelo calçadão em Ipanema.
Colecionadora inveterada de itens vintage, seu closet é tido como um tesouro com peças icônicas de décadas passadas assinadas por grifes como Yves Saint Laurent, Ungaro, Jean-Paul Gaultier e Zandra Rhodes. Tamanha autenticidade fez com que ela fosse convidada por títulos como Vogue e L’Officiel para assinar trabalhos que mostram seu humor e sua ousadia.
Turbantes multicoloridos, plataformas metalizadas, quimonos, estolas de pele e óculos gigantescos são praticamente seu uniforme. Se seu feed precisa de um pouco de drama, pode começar a segui-la já!
Iris Apfel
Até quem não é tão fashionista assim deve ter se deparado pelo menos uma vez com a imagem da nonagenária Iris Apfel. Com seus óculos ovalados e roupas exuberantes, ela se tornou não só referência do “advanced style”, como também uma autoridade no assunto estilo — destoando dos rostos juvenis a que estamos acostumados.
Decoradora por formação (até a Casa Branca já solicitou seus serviços nos anos 1960), Iris criou um estilo próprio sem seguir tendências ou se adaptar às novidades ao longo dos anos. Sua “fidelidade” resultou em uma imagem excêntrica com bijuterias maximalistas, mix de estampas destoantes e maquiagem em tons vibrantes. Entrevistei-a anos atrás durante a sua passagem pelo Brasil. Perguntei: “Qual peça de roupa ou acessório você jamais usaria?” “Biquíni, com certeza”, mostrando que humor é algo que realmente não envelhece.
Para quem quiser conhecê-la melhor, vale procurar o recém-lançado livro Iris Apfel: Accidental Icon e o documentário Iris, dirigido por Albert Maysles, disponível no serviço de streaming Netflix.
Lane Marinho
Nascida na Bahia e atualmente residindo em São Paulo, Lane começou a chamar atenção por recuperar uma prática até então esquecida: sapatos feitos à mão. Elevando o acessório a outro nível, a designer se transformou em uma verdadeira artesã ao adornar os pares com materiais improváveis, como conchas e pedras que acha em diferentes balneários durante suas viagens.
Recentemente começou a se dedicar também à cerâmica, o que resultou em acessórios únicos e com formas orgânicas. Em um mundo marcado pelo fast-fashion e pela produção em massa, ela se distingue por ir justamente pelo caminho inverso. A tropicalidade e o amor pelas cores marcam seu trabalho. Seu perfil no Instagram é inspiração pura, com composições improváveis, olhar delicado e, acima de tudo, autoral.
Paola Vilas
Louise Bourgeois, Jean Cocteau, Georges Braque, Pablo Picasso… No imaginário da jovem designer Paola Vilas esses artistas convivem em total harmonia. A partir das suas formas e influências, Paola cria joias ou, como ela mesma define, “wearable arts”, o que faz ainda mais sentido quando nos deparamos com brincos geométricos, pulseiras esculturais e anéis surrealistas.
Dando um passo que vai além do meramente artsy, a carioca cria diálogos sofisticados e não óbvios. O ouro e a prata ganham a companhia de pedras como amazonita, sodalita e até mesmo o mármore. E não para aí, ainda há espaço para uma sensualidade cubista e um flerte com a arquitetura no seu caldeirão de referências. Para mulheres que, definitivamente, não se contentam com um colar de pérolas.